Por Pedro Mendonça
Sou ribatejano, sinto-me ribatejano, é aqui que me sinto bem, esta é a minha casa, o meu lar. Não admito, por isso, que digam que o Ribatejo é sinónimo de Touradas porque não é. Existem há muito tempo, há muita gente que gosta e há até pais que metem crianças à frente de bezerros por pura diversão.
Mas o meu Ribatejo, aquele que sinto como lar, é sinónimo de gente que não se verga, de gente honesta, trabalhadora, pouco dada a ser mandada quer por padres, latifundiários, regedores e outros que tais. O meu Ribatejo é o Tejo e a beleza das suas margens, é a lezíria fértil, é o vinho e quem o faz e bebe em festas por aldeias lindas onde essa sensação de liberdade ribatejana faz com que sejam todas diferentes umas das outras. É a terra dos pássaros dos mais belos do País e dos gatos ainda alimentados pelas comunidades. O meu Ribatejo é história e cultura, berço de escritores, atores e pintores e é nele que está o magistral Convento de Cristo em Tomar ou o Largo do Seminário em Santarém, só para dar dois exemplos.
O Ribatejo não é uma região formal, não é um distrito, é uma sensação interior, é um espaço mais sensorial que físico; por isso, o Ribatejo não é só uma coisa, é um mundo, e por isso quero para ele o que quero para o mundo, quero amor, evolução e progresso.
No meu Ribatejo não entra a noção de tortura animal e por isso me vou manifestar contra mais uma tourada na minha terra, não me vou manifestar contra as pessoas que lá vão, vou-me manifestar a favor dos touros, animal nobre que tem sido torturado e humilhado para gáudio de alguns, felizmente cada vez menos.
Tudo muda e também o Ribatejo o deve fazer. Esta sexta-feira haverá gente a ir à praça de touros e gente contra esse “espetáculo”, espero que sem violência ou ataques que, por extremarem as posições, não levam a lado nenhum. De um lado os que querem que nada mude, do outro os que lutam pela mudança.
Sonho com a minha terra sem touradas, sei que esse dia virá, mas quero dar um empurrão para que venha o mais cedo possível. Eu compreendo quem ache que pode ser o fim de um tempo longo e que com isso fique triste, compreendo e respeito, mas o novo tempo que por muitos lutamos é um tempo mais humano e menos sanguinário.