Uma brevíssima história das estrelas

Por Afonso Morango
Vivemos num braço tranquilo da Via Láctea. A nossa Terra é um palco muito pequeno numa vasta arena cósmica e a verdade é que existem fronteiras que nunca conseguiremos atravessar, por muito que tentemos. Mesmo com tecnologia de ficção científica, estamos presos no nosso canto do universo e a espécie humana nunca será capaz de ir além do Grupo Local, por inúmeras razões relacionadas com o campo da Física. Estes sentimentos de impotência e pequenez podem revelar-se verdadeiramente avassaladores. A existência de um limite efetivo para uma espécie que parece ser capaz de alcançar tudo interpõe-se entre a nossa curiosidade insaciável e os astros fora do nosso alcance. Afinal, como seria “um bicho da terra tão pequeno” capaz de navegar um Cosmos infinito? Ainda assim, somos incrivelmente sortudos por existir num momento perfeito do tempo para vislumbrar não apenas o nosso futuro, mas também o nosso passado mais distante e, embora muito esteja para lá da nossa tão desejada epopeia espacial, ainda há muito terreno a ser explorado.

Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de construção de carácter. Olhar para a Terra através da viseira de um fato espacial mudou a forma como a humanidade se vê a si própria no universo, mas não o suficiente. Todos os seres humanos que alguma vez existiram viveram aqui, no canto de uma galáxia que constitui uma ínfima parte do Cosmos. Todo o sofrimento, os genocídios em massa, as lutas pelo poder, as atrocidades cometidas contra os inocentes e a Natureza, assim como as boas ações, grandes ou pequenas, os atos abnegados e sacrifícios, aconteceram aqui, neste pequeno planeta azul numa zona dourada do Sistema Solar. Esquecer os problemas terrestres parece ser fácil quando sonhamos com planetas distantes e cometas, mas são esses mesmos sonhos e feitos passados que deveriam ajudar à possibilidade de uma vida digna para todos.

Não há dúvida de que as missões Apollo mudaram o paradigma em que a humanidade vivia. Hoje, as nossas vidas são condicionadas pelos satélites que as gerações anteriores lançaram e há cada vez mais interesse na exploração espacial. A segunda metade do século passado deu início a uma nova época de ouro da Física e da Astronomia. Todos os anos descobrimos um objeto cósmico no limiar do Universo e o sonho de explorar o planeta vermelho alimenta investimentos bilionários. Navegar no sistema solar é um plano já traçado para os próximos anos. No entanto, temos de ser realistas. A humanidade, por muito que nos custe admiti-lo, tem limites e nunca devemos esquecer a nossa casa e todos aqueles que aqui sofrem todos os dias.

A verdade é que é necessário encontrar um equilíbrio. Os seres humanos são animais curiosos, numa busca incessante pelo conhecimento, mas também temos bondade nos nossos corações. É difícil dizer como será o nosso futuro intergaláctico ou mesmo se o teremos, mas a nossa prioridade deve ser a Terra e todos aqueles que aqui vivem, curiosos ou não. O nosso principal investimento deve ser na humanidade. Stephen Hawking ensinou-nos o que é a esperança e a sua memória recorda-nos que nunca devemos olhar para baixo, mas para o firmamento, onde as estrelas que a Humanidade sempre observou continuam a fazer-nos sonhar.

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