11 de Setembro. Algo mais que uma data?
"Esta data que fica na história como uma página negra da civilização, está cada vez mais reduzida a “apenas” mais um lamentável episódio da imensa estupidez e maldade humanas pois na verdade o mundo não mudou". -Invictamente, por João Fróis
Cumprem-se hoje 23 anos desde o trágico dia em que as outrora famosas torres gémeas de Nova Iorque, foram brutalmente atingidas por dois aviões comerciais, provocando a morte a largas centenas de inocentes. Parecia que todo o mundo iria ruir juntamente com as torres e que nada ficaria como antes. Durante algum tempo, na ressaca de tão violento e inesperado atentado à liberdade e à democracia, muito se falou nas mudanças abruptas que este evento dramático iria despoletar a nível mundial.
A segurança tornara-se uma quase obsessão face às ameaças medonhas que a Al Qaeda e os grupos terroristas em geral lançavam por todo o planeta. Os aeroportos foram revistos minuciosamente e o controlo foi apertado na circulação de pessoas e bens. Mas será que o mundo mudou assim tanto?
Desde esse já longínquo 11 de setembro de 2001 o mundo tem conhecido episódios violentos e com impacto à escala global. Desde a 2ª guerra do golfo e a captura e morte de Saddam Hussein, quebrando o regime iraquiano, à captura e morte de Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda e presumível autor dos atentados de Nova Iorque, aos atentados terroristas em Madrid a 11 de março de 2004, em Londres a 7 de julho de 2005 e em Paris a 13 de novembro de 2015 e Nice em julho de 2016, o mundo tem vivido em suspense constante, com períodos de acalmia, mas sob um véu pesado e negro do terrorismo.
Mais que as crises financeiras e económicas que se vão sucedendo e provocando ondas nefastas na qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo, são as ameaças à vida humana que continuam a devastar a paz e a ameaçar o equilíbrio que a ONU procura, com abnegado esforço, manter desde a sua criação na ressaca da 2ª guerra mundial, em outubro de 1945.
Ainda a braços com uma inusitada e polémica pandemia que abanou o mundo, colocando o Covid19 no centro das preocupações da OMS, eis que Vladimir Putin decide invadir a Ucrânia, a 22 de fevereiro de 2022, despoletando uma nova guerra na europa e que continua nos dias de hoje e sem fim à vista. Para piorar o cenário, a 7 de outubro de 2023 estalou o conflito entre Israel e o grupo armado do Hamas, sedeado na faixa de Gaza, e que também continua atualmente e sem um acordo que lhe ponha termo. Pelo meio já morreram milhares de soldados russos e ucranianos e centenas de civis no país de Volodymyr Zelensky, o homem que passou de ator a presidente de um país ameaçado e outros tantos civis na palestina, sob o peso dos milhares de bombas israelitas na ação militar de tentativa de desmantelamento do Hamas. Para mais o Hezbollah ataca Israel a partir do Líbano e o Irão faz ameaças de destruir o estado judaico, fornecendo ao mesmo tempo mísseis a Putin para usar em território ucraniano e o ajudar a vencer uma guerra sem fim e em que todos perdem, principalmente as populações inocentes.
Mas se achamos que só as guerras ameaçam a democracia e a paz, que dizer das eleições recentes na Venezuela, com um mal disfarçado atropelo da verdade eleitoral, dando uma pretensa vitória ao presidente em exercício, o polémico Nicolás Maduro, e consequente perseguição e fuga do seu opositor e presumível vencedor das eleições. A tirania continua de garras afiadas no mundo e são os regimes democráticos que estão sob enorme ameaça e tensão. Seja pelos desmandos da economia, num jogo tático entre blocos, com os EUA e a China imersos num complexo jogo de xadrez financeiro, político e diplomático, tentando esvaziar o poderio russo e as ameaças nucleares da Coreia do Norte e do Irão.
Mas são os conflitos armados que continuam a manter o mundo em sobressalto. Em 2024 continuam ativos mais de 30 conflitos militares, a maior parte no norte de África, mas também no golfo pérsico, no Cáucaso e em Myanmar. Os motivos são os de sempre, poder e riquezas minerais, com o incontornável petróleo, mas também os minérios raros para as baterias dos veículos elétricos, e até a velha conquista de território, algo que há muito não se via. São conflitos que os media não acompanham, mas que estão a provocar milhares de vítimas e uma legião de refugiados que só vemos quando se lançam em embarcações lotadas no mediterrâneo, terminando muitas delas em naufrágios e afogamentos de mulheres e crianças em desespero. Uma tragédia sem fim e que mostra o quão doente está este mundo. E os exemplos são muitos infelizmente. Para lá das guerras já abordadas, o conflito entre a Arménia e o Azerbaijão, em disputa do enclave de Nagorno-Karabach desde 2020, continuam ativos os conflitos armados no Afeganistão, no Sudão, com 6 milhões de deslocados, no Iémen com os rebeldes Houthi a causarem mais de 200 mil mortos na sua ação armada, na Etiópia e Somália com conflitos sem fim e na região do Sahel, com epicentro no Burkina-Faso e a envolver dez países em seu redor, com fações bem armadas e com o apoio da Rússia.
Recentemente assistimos aos jogos olímpicos em Paris, sendo o arauto da liberdade e da sã competição atlética entre nações, com o espírito da participação universalista e tolerante e onde todos são bem-vindos. Paris surgiu como um farol dos valores que França tornou universais no mundo desde a sua revolução em 1789, a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre povos e nações.
Mas infelizmente este farol e a luz que emana chega apenas a algumas partes deste mundo complexo, imerso nas nuvens negras da guerra, da fome e dos atentados aos direitos humanos. É um mundo desigual e com desequilíbrios demasiado profundos e marcantes e que não se afigura poder melhorar. E entre tantos conflitos e guerras, com milhões de refugiados e deslocados, com a destruição de florestas e as alterações climáticas em curso, a gerarem fenómenos abruptos e violentos, sejam secas devastadoras ou cheias que tudo destroem, almejar um mundo melhor é cada vez mais um exercício de fé, seja ela religiosa, para os crentes, ou como último recurso para todos os demais.
Por tudo isto, esta data que fica na história como uma página negra da civilização, está cada vez mais reduzida a “apenas” mais um lamentável episódio da imensa estupidez e maldade humanas pois na verdade o mundo não mudou desde então, está até pior e sem rumo que o salve. Cabe a cada um manter a chama da esperança bem acesa e lutar por um m undo melhor. A união continua a fazer a força. Obrigado