Educação. Um novo velho paradigma

 

“Invictamente” por João Fróis

joao froisEducar. Uma palavra, um conceito, um tema, indissociável da nossa formação coletiva e que está na ordem do dia pelas piores razões. A sua ausência ou desvirtuamento grave são atualmente uma evidência que ainda não é denunciada como problema social mas que está a corroer as bases de construção da sociedade.

É certo que as sociedades avançam e se modificam, que as conjunturas económicas e sociais se entreligam e criam dinâmicas de avanços e recuos e que o fazem a um ritmo cada vez maior, exigindo de cada um de nós uma adaptabilidade crescente e que nem sempre gera frutos imediatos. Os tempos são desafiantes a vários níveis e a sensação de imprevisibilidade cria uma instabilidade emocional coletiva onde a falta de consistência nas expectativas de garantias e segurança vão pondo a nu as fragilidades sociais e de modo mais dramático mas menos visível, as imensas carências individuais e sectoriais numa sociedade cada mais fraturada e classista.

O tema educação tem sido sempre associado à escola e não há um único ano da sua atividade em que se não questionem os métodos, os paradigmas, a organização, os manuais, a avaliação, num rol de incertezas e respostas adiadas que invariavelmente tudo mudam para deixar tudo na mesma! No essencial pouco se avança. O papel da escola tem sido debatido vezes sem conta sem se chegar a pontos chave que melhor orientem e adequem as necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais diferenciado e exigente, concorrencial e pressionado. Ter as ferramentas adequadas é crítico e essas passam pela definição do que deve a escola fornecer enquanto métodos, preparação e know-how a cada aluno e futuro profissional. Há quem cada vez mais questione os métodos de ensino tradicionais e há razões para tal. Há décadas que o desfasamento entre a escola e universidades e o mercado de trabalho é por demais evidente e pouco se tem feito para encurtar distâncias.

Mas há algo maior e preocupante que subjaz a toda esta realidade. A formação que as crianças e jovens estão a ter, não na escola, mas em casa, nas suas famílias, com os pais!

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Os tempos mudam e não temos hoje o mesmo tecido social de há 20 ou 30 e mais anos, onde muitos de nós agora nas casas dos trinta e quarenta, nos fomos formando enquanto homens e mulheres. Os valores que recebemos não foram uniformes e assistiu-se a uma dispersão que gerou frutos e que estão hoje aí aos olhos de todos nós. Da rigidez dos tempos dos nossos pais avançou-se muito rapidamente para uma liberdade crescente que muitas das vezes se confundiu com libertinagem. E tantas outras com ausência e impreparação para ser pai e mãe. A tão propalada adolescentização da sociedade é hoje um chavão social e é com brio que se afirma que os os quarentas são os novos trinta e por aí acima, numa escala em que ninguém quer ser ou parecer velho e antiquado. Ser jovem ou parecê-lo é uma necessidade e a sua afirmação prática e ideológica um hábito mundano. Tudo passou a ser possível e com o despertar da tecnologia o mundo ficou literalmente na “palma” da mão. Se antes se reprimiam os excessos e se aconselhava prudência, agora exaltam-se as opiniões e a exposição mediática. No meio de tudo isto a palavra respeito é aquela que mais tem sido… desrespeitada! Não concebo uma sociedade em que o respeito pelo outro não seja a primeira pedra do edifício coletivo, em que seja essa a base do tecido social e da convivência intergeracional. Assistir diariamente a situações de faltas grosseiras de respeito ao próximo incomoda-me e faz-me refletir sobre o futuro coletivo, ponderando onde nos levam estes caminhos.

Saiu há dias uma notícia assaz preocupante e que muito nos deveria obrigar a refletir e agir. Um em cada quatro jovens adolescentes de hoje aceita como natural a violência no namoro e acha que forçar as relações sexuais é normal e aceitável! Ora isto é, se não trágico, alarmante. Que jovens são estes e como chegaram até aqui? São com certeza fruto da educação ou da falta dela, por parte dos seus pais. Ou progenitores, porque ser pai é e tem de ser muito mais que isto. Assistimos hoje a uma geração de pais que preenche os imensos vazios das suas vidas com outras tantas futilidades nas vidas dos seus filhos. As crianças têm tecnologia de sobra para se entreterem mas são pouco amadas e acarinhadas. Passam mais tempo ligados virtualmente entre si do que dispõem de tempo de qualidade com os pais, isto numa altura das suas vidas em que o exemplo e educação dada por estes é crucial para a definição dos conceitos, a apreensão do certo e do seu oposto, a aprendizagem do que deve ser o relacionamento entre os seus pares e o respeito que todos merecem, antes de qualquer outra questão. Mas o que vemos são crianças imaturas, violentas e que não se sabem relacionar e sequer brincar. Não respeitam os professores, não dão descanso aos colegas, importunam e perseguem os que não sendo como eles se tornam alvos naturais das suas imensas faltas, preenchidas com a pequena satisfação da ilusão de poder que a imposição da força lhes proporciona.
São crianças em que os pais gritam alto e a quem os quiser ouvir que não aceitam que os professores enviem trabalhos de casa pois não têm tempo para essas coisas…

Crianças que vão para a escola de semblante triste porque são pressionadas para ter boas notas a qualquer custo, sem olhar a meios para atingir essas metas pois para os seus pais o importante é a nota, não a aprendizagem e a felicidade do seu filho. Pais que não comparecem às reuniões dos seus filhos quando para tal são convocados, mas que são os primeiros a ir pedir satisfações se as notas atribuídas não lhes agradam… Jovens que andam pelas escola com os livros mas que não estudam e a quem pouco ou nada parece importar… e depois lemos as estatísticas das mães adolescentes e percebemos que não estamos a evoluir mas a retroceder.

São tudo pontas de um mesmo iceberg, partes de um todo que muitas mais estórias de vida comportam, mas que, no seu resumo, a todos nós nos devia preocupar e levar a agir. Uma sociedade sem bases fortes, sem crianças bem formadas e com os seus conceitos bem assentes, com uma educação de proximidade, afetiva, exemplar, em que saber dizer não é imprescindível para estabelecer limites e baixar egos, é uma sociedade sem futuro, a gerar caos e infelicidade a cada vez mais pobres de espírito e dissociados de vidas realizadas e bem estruturadas.

Entendo que face à dimensão real do problema mas que parece continuar a passar ao lado das estruturas de poder, urge criar escolas para pais. Centros de apoio às famílias, onde possam ter gente que as oriente, apoie e guie nesta tarefa essencial que é educar e formar crianças e jovens, rumo a um futuro risível e feliz, algo que qualquer pai, à partida deseja para os seus filhos.

Acordem-se as consciências e promova-se a inclusão da educação nas prioridades do Estado, não apenas como tecido escolar mas verdadeiramente abrangente para incluir as famílias, orientar crianças e jovens e fomentar o seu crescimento e realização. Afinal não temos todos de ser doutores e essa mentalidade tem de deixar de prevalecer. Para tal a presença de psicólogos e sociólogos nas escolas, de modo permanente, deve ser uma realidade, ajudando a prevenir e não apenas a corrigir, quando tantas vezes já é tarde demais.

Famílias bem apoiadas pelo sistema de ensino, conscientes da importância da escola e da formação para as crianças e jovens, participantes ativos no seu crescimento e evolução, são parte essencial da equação e imprescindível para o futuro de todos. Educar é o caminho e não há outra via possível. Se queremos um país melhor lutemos pela educação das futuras gerações. Hoje e, um pouco, todos os dias! E cada um de nós pode fazê-lo, nas suas casas a dar o exemplo aos seus filhos, capacitando-os das ferramentas determinantes no seu crescimento emocional para mais tarde poderem almejar a serem perfeitamente capazes de liderarem os seus próprios destinos. E aprenderem a importância da palavra Respeito, em todas as suas dimensões éticas e sociais, são a garantia de uma sociedade mais justa, mais plural e participativa, mais humana e solidária. Bem hajam todos os pais que o fazem, paulatina e abnegadamente, contra ventos e marés!!


 

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