Eleições 2.0

Opinião de Rafael Teixeira

As eleições são de uma importância fulcral para as sociedades modernas, pelo que não têm apenas de funcionar, como as pessoas têm de acreditar que funcionam.

Após cada ato eleitoral, lembro-me sempre das cidadãs e cidadãos que o tornaram possível. Essa multidão anónima que ali está, um dia inteiro, revezando-se, conversando e assegurando que tudo corre sobre rodas. Do apoio a quem tem mais dificuldade, com a ordem na sala, ao lidar com as tensões das contagens, acontece sempre qualquer coisa de diferente.

Esse trabalho é, atualmente, remunerado, mas lembro-me daquelas em que participei e que não eram. O meu pai ensinou-me que era um dos preços a pagar pela democracia. E eram uma seca, na altura. Mas são essas pessoas que garantem que confiemos no ato e no seus resultados, independentemente das nossas escolhas. Por isso, quanto mais que não seja, a eles o meu obrigado público.

Posto isto, porque é que ainda usamos este sistema, pouco eficiente, chato e demorado? Pode parecer um bocado incompreensível que, numa altura que tudo é feito online (recebi hoje a minha “fatura do IMI para pagar e irei fazê-lo exclusivamente com recurso a meios eletrónicos), não se consiga obter os desejos da população através da utilização de meios eletrónicos.

Aparentemente as vantagens são tremendas: mobilidade (“vote onde quiser”); facilidade para o utilizador (“click”); resultados e contagens mais rápidas (em tempo real); menos dependência de meios humanos e logísticos (mesas de voto e todo o aparato que rodeia uma eleição, para além dos custos efetivos de dinheiro – 8,5 M€); melhor eficiência do processo eleitoral; previsível diminuição da abstenção.

Qual é que é o problema, então? É que o voto tem de ser secreto. E, ao contrário das transações bancárias e similares, que temos com n entidades, não tem de ser apenas confidencial, i.e., apenas as partes envolvidas sabem do conteúdo da comunicação.

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Não. O voto tem de ser secreto mas não pode ficar ligado a quem votou, ao indivíduo. O voto teria de ser contabilizado e esquecido, apagado, teriam de desaparecer todas as ligações a quem o tinha efetuado. E isso, a ser possível, abre a porta a um conjunto muito grande de utilizações, mais ou menos indesejáveis (o mais ou menos, dependendo de que lado se está).

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