Desde Setembro de 2015 que uma nova farmácia serve a população do concelho do Cartaxo. Em boa verdade, é uma nova farmácia mas não é mais uma farmácia, uma vez que a recém-inaugurada Farmácia Holon veio ocupar o espaço da antiga Correia dos Santos, na Rua da República. Esta unidade junta-se à Farmácia Central que, desde 2009, sob a direção de Hugo Celso Costa, está instalada na Urbanização da Quinta da Cabreira.
Atualmente, são já 14 os colaboradores das duas farmácias do concelho, a funcionar num total de 12 horas diárias, durante a semana, e 11 horas aos fins de semana. Com a inauguração do projeto mais recente, desaparece o nome da Farmácia Correia dos Santos, um espaço com tradições na cidade. Hugo Costa explica que a decisão de mudança de nome não foi fácil, mas foi bastante ponderada. “Não se pretendeu desprestigiar o nome, e a notoriedade, da farmácia Correia dos Santos, mas optámos pela mudança para cortar com a memória recente. O que pretendemos é que seja mesmo uma coisa nova, perto das pessoas, com produtos, serviços e profissionais competentes, dispostos a ajudar e capazes de fazer a assistência farmacêutica, ou o encaminhamento do doente, quando for preciso”, explica o farmacêutico. Ambas as farmácias estão ligadas ao grupo Holon que, durante a nossa conversa, Hugo Costa vai explicar como nasceu e com que objetivos. Antes disso, traçou-nos um breve retrato do seu percurso até se tornar proprietário, e diretor, de duas farmácias, no Cartaxo.
Nascido em Lisboa e criado em Setúbal, Hugo Celso Costa tinha, na época de entrada na faculdade, uma predisposição para qualquer área relacionada com a saúde. “Medicina, farmácia ou bioquímica foram hipóteses em cima da mesa”, recorda. “Acabou por se concretizar farmácia, até porque a minha mãe tem o curso, mas nunca exerceu porque optou pelo ensino”. Terminado o curso, conta que enquanto jovem licenciado passou por todas as áreas da cadeia do medicamento. “Trabalhei em farmácia, passei pela distribuição, e pela indústria, em duas vertentes; a de investigação e ensaios clínicos, num laboratório e, na parte mais comercial, no marketing farmacêutico, como gestor de produto”.
A decisão de se tornar proprietário de uma farmácia surgiu quase por acaso. “Nessa época costumava vir, com amigos, praticar atividades aquáticas no Tejo, que acabavam num invariável petisco em Valada, onde um amigo tinha familiares, que eram proprietários de uma farmácia aí existente. Numa visita que lhes fizemos, um dia, nasceu esta possibilidade de negócio. Era uma estrutura pequena, que implicava um investimento acessível para mim, na altura”, explica. Pouco mais de um ano após ter adquirido a farmácia de Valada houve uma alteração da legislação que liberalizou a localização das farmácias dentro do mesmo concelho. “Foi nessa altura, em 2009, que surgiu a transferência aqui para o Cartaxo. Fruto da desertificação, a farmácia em Valada caminhava para uma situação de inviabilidade financeira. As unidades de saúde e as empresas acabam por migrar junto com as populações. À medida que as populações se vão deslocando para as sedes dos concelhos, e para o litoral, este tipo de estruturas acabam por ter de ir atrás. Este não foi um fenómeno daqui, foi nacional”, explica Hugo Costa.
Nesta época surge igualmente o projeto Farmácias Holon, que Hugo Costa explica como uma iniciativa de colegas da faculdade. “Éramos quase todos colegas do mesmo ano. Pensámos, inicialmente, juntar-nos para criar uma central de compras. Alguns já tinham farmácias no núcleo familiar. Começaram por se agregar dois, que detinham seis farmácias, e depois mais uma série de outros e chegou-se, quase, às 40 farmácias. Rapidamente percebemos que sermos só uma central de compras ia esgotar, rapidamente, as capacidades. Identificámos a necessidade de irmos mais longe e de não sermos só um grupo de compras mas um grupo de vendas. Tínhamos que ter todos a mesma comunicação, e ter um discurso coerente, com a mesma imagem, as mesmas campanhas e, além disso, tentarmos fazer as coisas da mesma maneira. A seguir, pensámos em criar uma marca porque a marca cria mais valor”, explica Hugo Costa. E assim nasceu o grupo Holon, que o farmacêutico explica ter a sua origem no conceito de holístico. “Queríamos um nome neutro, que não fosse nem novo nem velho, nem masculino nem feminino, e suficientemente curto para ser memorizável. Desenvolvemos uma nova imagem. Adotámos o roxo, que é a cor do nosso curso, para nos afastarmos do verde, tradicionalmente usado nas farmácias, e desenvolvemos serviços de marca própria em que o foco é a qualidade do serviço.” Para Hugo Costa, no grupo Holon tenta-se ter cada vez mais farmacêuticos disponíveis na farmácia, porque se entende que “o farmacêutico tem de ser uma peça do sistema nacional de saúde. A farmácia é a primeira porta de acessibilidade para o sistema. Sempre tentámos ter o pessoal mais qualificado, e conseguimos ter sempre um farmacêutico a qualquer hora. Nós não queremos resolver na farmácia aquilo que não é para ser resolvido por nós. Por vezes a nossa melhor contribuição para o sistema é encaminhar para o serviço certo, e é isso que fazemos”.
Apesar de se saber que o volume de negócios das farmácias sofreu uma redução na casa dos 30 por cento, e de que há produtos que passaram a poder ser vendidos fora das farmácias, Hugo Celso Costa está confiante no futuro. “Há uma nova concorrência, mas que não deixa de ser positiva porque também obriga as farmácias a trabalhar melhor. É uma guerra desigual, mas que nos obriga a ser melhores e mais proativos”, explica, enquanto garante que, neste momento, o que precisa é de tempo porque, explica, “lidar com a saúde das pessoas não se faz de um dia para o outro. É preciso tempo para estabelecer relações de confiança, ter as coisas bem alicerçadas e deixá-las correr”.