“Manter o ensino da música na Ereira é essencial”
Fomos até à Ereira ao encontro da nova direção da Sociedade Filarmónica Ereirense, para saber como está a ser a experiência, passados seis meses após a tomada de posse, quais são os maiores desafios que estão a enfrentar e os planos para o futuro.
Fomos até à Ereira ao encontro da nova direção da Sociedade Filarmónica Ereirense, para saber como está a ser a experiência, passados seis meses após a tomada de posse, quais são os maiores desafios que estão a enfrentar e os planos para o futuro.
Gonçalo Sousa, é o presidente da direção, Luís Correia, secretário e Carlos Rodrigues, tesoureiro. Assumem agora o compromisso, porque a direção anterior não quis permanecer e para a banda não acabar, “decidimos chegar-nos à frente para dar continuidade ao trabalho que temos vindo a desenvolver”, explica-nos o presidente.
Com poucos meses de experiência já têm notado algumas dificuldades em arranjar pessoas com disponibilidade para ajudar, não só músicos, mas também outras dispostas a ajudar na realização das atividades. “As pessoas não querem assumir o compromisso, nem ter responsabilidade”, adianta o tesoureiro.
Atualmente a banda da Ereira tem cerca de 20 elementos, mas quando querem fazer concertos mais elaborados têm sempre de pedir ajuda a músicos de outras freguesias do concelho, pois existe um grande défice de certos instrumentos. Para Carlos Rodrigues, “a pandemia acabou por ser um pretexto para muitos saírem, já não estavam contentes por ali estar, então aproveitaram.” Depois o que acontece é que para que os concertos se concretizem é necessário recorrer a profissionais que são muito mais dispendiosos.
Este grupo que tomou posse em setembro de 2022, conta-nos que a sua principal missão é manter a escola de música ativa e que apesar de funcionarem no espaço da Casa do Povo, são coisas distintas.
Mesmo com poucas crianças na Ereira, e apesar de algumas dificuldades, querem cativá-los a participar e a vir aprender música. Gonçalo Sousa diz-nos que “a música tem uma curva de aprendizagem ao longo de vários anos até se conseguir atingir o nível de instrumento e passar à banda”. No entanto, a maior quebra de alunos regista-se quando passam da parte do solfejo inicial para o instrumento, pois aí deixa de ser só vir às aulas e começa também a ser necessário usar os tempos livres para praticar.
Com gosto e esforço tudo se consegue
Carlos Rodrigues
Outra fase em que acaba por ser mais árduo coordenar a banda com a vida pessoal é quando os jovens vão para a faculdade, como acabam por passar mais tempo fora é mais difícil coordenar os ensaios e as saídas, mas “com gosto e esforço tudo se consegue. Podem não vir tantas vezes, mas é importante não deixarem de vir”, apela Carlos Rodrigues.
“Atualmente a maioria dos miúdos não estão habituados, nem querem fazer um esforço para atingir determinado objetivo, preferem desistir”, afirma Carlos Rodrigues. Mas Luís Correia, que é também um dos professores da escola de música, revela-nos que agora há também outra questão, “os miúdos não querem ir para a banda, porque sentem vergonha, têm medo de falhar e que alguém note esse erro”. Para eles, é importante perceber, que todos aqueles que hoje representam o grupo dos mais velhos começaram também enquanto crianças com 10/11 anos e passaram por um processo natural de aprendizagem, “falhando e conquistando”, admite Gonçalo Sousa.
Oiço muitas vezes os pais a queixarem-se que os miúdos passam muito tempo fechados em casa, agarrados às tecnologias, mas depois também não incentivam a que eles façam outras coisas diferentes.
Luís Correia
Para além de ser uma atividade enriquecedora, é também aqui nestas escolas que por vezes se descobrem talentos que depois acabam por seguir esta arte a nível profissional. “Oiço muitas vezes os pais a queixarem-se que os miúdos passam muito tempo fechados em casa, agarrados às tecnologias, mas depois também não incentivam a que eles façam outras coisas diferentes”, são palavras do professor Luís Correia que sente que era importante da parte dos pais haver mais estímulo para as atividades da terra.
Atualmente, a oferta de atividades no concelho, é cada vez maior, o que acaba por dispersar muito mais as crianças. Aqui nesta Sociedade Filarmónica o valor é totalmente simbólico, estes alunos podem frequentar a escola de música com duas aulas por semana, por apenas cinco euros por mês.
Para o futuro planeiam manter a escola de música ativa, fazer as apresentações que já têm por hábito fazer, o aniversário, a Páscoa, o Natal e a apresentação final dos alunos da escola de música antes das férias de verão.
“Manter o ensino da música na Ereira é essencial”, mas confessam que à medida que vão perdendo elementos e sem apoios por parte da Câmara Municipal do Cartaxo ou da Junta de Freguesia sobretudo numa terra pequena, “é cada vez mais difícil”.
De momento, reconhecem que uma das maiores limitações que têm é a falta de um espaço próprio e com isso a falta de melhores condições. A exploração do Bar, as cotas dos sócios e o valor pago pelos alunos, são os únicos rendimentos que têm e que posteriormente são utilizados para pagar o espaço onde desenvolvem a sua atividade e para a manutenção dos instrumentos que pertencem à banda, porque “esta é uma área bastante cara, em termos de equipamentos”, explica Gonçalo Sousa.
É importante mostrar que ainda há pessoas que se importam e que são elas que mantêm as coisas vivas. É relevante mostrar que há novas gerações que estão a retomar coisas na terra.
Gonçalo Sousa
Para se fazer um concerto é necessária muita organização por trás e “muitas vezes as próprias autarquias não têm noção do tempo e custos que levamos a preparar uma apresentação”, esclarece Luís Correia. Este grupo pede apenas que as autarquias reconheçam o seu valor e promovam momentos de atividades no concelho onde possam divulgar a sua arte, a música.
O presidente explica-nos que não só é difícil “cativar malta nova a praticar como a assistir a espetáculos”, assim “é importante mostrar que ainda há pessoas que se importam e que são elas que mantêm as coisas vivas. É relevante mostrar que há novas gerações que estão a retomar coisas na terra”, acrescenta o músico.
O grupo está motivado e “cheio de pica de andar para a frente com o projeto”, porque para eles o significado é especial, não é só a música, acaba por ser também todos os momentos que passam juntos, o convívio e amizades que aqui desenvolvem.