Opinião de Raquel Marques Rodrigues
Internet, computadores, dispositivos móveis, não restam dúvidas que estamos na era digital. Se antes a tecnologia era sinónimo dos jovens, hoje a realidade é outra. É cada vez maior o número de idosos que aderem à inclusão digital. Com base neste cenário virtual, questiono qual a importância das novas TIC na terceira idade? Que impacto têm nas suas vidas? Que mudanças ocorrem num lar de idosos?
A tecnologia evolui a olhos vistos mas, como ela, o nosso comportamento e atitude também. Quando os idosos chegam à sua nova residência, na sua mala ou no bolso do casaco já não trazem só a carteira com os documentos, o pacote de lenços ou o pente, carregam o seu telemóvel com muita estimação. Pedem para carregar o telemóvel, para ler as mensagens recebidas e consultar as chamadas perdidas. Alguns já têm conta no Facebook e outros, quando querem saber a meteorologia, o último sorteio do Euromilhões ou o resultado do jogo de futebol do dia anterior, vêm ter comigo porque já sabem que os seus interesses são atualizados na hora.
Muitos combateram na guerra, escreviam cartas com meses sem resposta e outros matavam em apenas poucos minutos a saudade da voz da sua mãe. E hoje?
Para a Srª. L., de 91 anos, “a tecnologia foi um grande salto para a comunicação. Com os tremores já não consigo escrever postais de boas festas e de aniversário como fiz sempre até poder, então, basta ligar do meu telemóvel para as minhas amigas.” Já o Sr. A., de 93 anos, refere: “quando estava em Macau, em 1945, pedia à telefonista para ligar para Lisboa, para falar com os meus pais. Passado uma semana, sensivelmente, ela fazia a ligação e depois eu falava com meu pai. Era uma chamada cara e, no máximo, três minutos e ainda por cima a ligação era feita com muitos ruídos. E agora? No meu tempo não imaginávamos que hoje eu podia ter um telemóvel e que hoje, através dele, já tive oportunidade várias vezes de ver e falar com a minha neta que se encontra na Alemanha”.
São registos reais que partilho, porque tenho o privilégio de conviver com pessoas quase centenárias que passaram por esta rápida difusão das tecnologias de informação. Nasceram sem televisão, muitos só tiveram telefone quando casaram, trabalhavam com a companhia da rádio e hoje adormecem com o telemóvel à cabeceira. Foi importante evoluir. Não existe evolução sem mudanças.
Penso que os idosos querem-se envolver e participar numa sociedade digital porque têm necessidade de comunicar com o mundo. Será um refúgio à solidão? Certamente que para a maioria sim, que viva isoladamente ou em casa, só.
As novas tecnologias permitem que este grupo etário fique mais informado, independente e melhora as suas relações sociais. Serve como um bilhete com entrada gratuita para novas aventuras e aprendizagens.
Mas num lar de idosos a realidade é diferente, pois estão sempre acompanhados e estimulados a participar em grupo, como uma teia, mantendo-os conetados. Este espaço permite aumentar a comunicação com a sua família no exterior e ajuda na sua autonomia física, para quem tem problemas de mobilidade. Creio que as TIC assumem um papel de extrema importância para a promoção do envelhecimento ativo.
Em suma, vivemos numa sociedade em rede e envelhecida, numa geração que não desliga. E você, quer ficar temporariamente offline na vida dos seus avós ou fazer um upgrade no vosso relacionamento?