Opinião de Ricardo Magalhães
Fizeram um estudo uma vez: pegaram numa turma de alunos de fotografia e dividiram-na ao meio. A primeira metade seria avaliada em função do número de fotografias que colocasse no portefólio final. A segunda metade por sua vez necessitava de colocar uma só foto no portefólio, mas seria a qualidade dessa única foto a ditar a sua avaliação.
Esta parece uma situação típica de quantidade versus qualidade, mas o mais surpreendente foram os resultados desta experiência. As melhores fotos, de todas as que foram entregues nos portefólios de avaliação, pertenciam todas ao mesmo grupo de alunos: ao primeiro. Acontece que o segundo grupo estava tão embrenhado em tirar a foto perfeita, a sentir a pressão de conseguir encontrar e captar um momento único de luz, cor, emoção e vida… que acabou por não o conseguir atingir.
Porquê? Apenas porque o primeiro grupo tirou mais fotos, embrenhou-se nessa tarefa, aproveitou certamente para experimentar diferentes cenários, pessoas, luzes e perspetivas, tornou-se melhor a fazê-lo e, eventualmente, por habilidade, sorte ou talento (talvez mesmo um bocadinho de todos) chegou àquele momento ideal, mesmo que não o tenha reconhecido na altura.
Algum ensinamento disto? Não muitos… talvez o mais importante… não sei. Que estás a fazer com a tua vida? (Perguntei eu no título desta crónica) A verdade é que nem eu sei responder a esta pergunta. Não é que ande perdido, mas não sei para onde vou. Por vezes na minha vida vi-me rodeado de colegas que pareceram sempre sabê-lo (alguns dos quais ainda estão nesse caminho e fico feliz por eles). Outras pessoas com quem me cruzei na vida têm um sonho e trabalham duro para lá chegar, mas o destino de alguma forma ainda não quis que fosse o tempo delas. Outras andam sem rumo e, pelo menos à primeira vista, seguem a sua vida dessa maneira (às vezes melhor, por vezes pior). E acredito que depois há outros que, como eu, não sabem para onde vão, mas sabem que algures existe um caminho para onde querem ir.
É fácil, por vezes, sentirmo-nos perdidos. Deixo-me guiar pela minha intuição e a esperança convicta de que algum dia hei de lá chegar. Não sei ainda onde, mas saberei a seu tempo. Creio que com todo este texto queria apenas dizer-te que, se andas à procura da tua fotografia perfeita não ponhas tanta pressão em ti mesmo/a. Aceita a tua jornada, caminha, desafia-te, duvida mas segue em frente, fá-lo hoje apenas para seres consistente com a decisão que tomaste ontem, falha, ouve aquilo que dizem de bem ou mal de ti e independentemente disso volta a tentar. Onde é que isto te irá levar? Não sei, mas acredito que aonde tu procuras. Lembra-te: não precisas de ser muito bom para começar, mas precisas de começar para ser muito bom. Enjoy the ride!
*Artigo publicado na edição de maio do Jornal de Cá.