Por Rogério Coito
Uma lenda muito bonita diz que foi a rainha santa Isabel a dar o nome ao Cartaxo. Sabe-se hoje que a rainha nasceu em 1269 e que já em 1225 uma Carta de D. Sancho II concedia a Pedro Pacheco o seu lugar de “Vale Cartaxo” como fora vontade de seu pai e seu avô. No Boletim das Festas de Maio de 1937, que tem sido uma excelente fonte informativa para muita e variada gente, o embaixador Luiz T. de Sampayo analisando a Carta de Foral concedida por D. Dinis em 1312, avança: “Como se vê a carta é passada também em nome da Rainha Santa Isabel e daí se originou talvez a tradição popular de ter sido a Santa Isabel que pôs o nome ao Cartaxo. Mas o estudo deste ponto levar-nos-ia longe demais.” E o assunto durante anos ficou por aqui, com a lenda a ganhar asas e foros em temas escritos e desenhados.
Marcelino Mesquita (1856 – 1919) deixou no seu espólio entregue na Biblioteca Municipal muitos escritos inéditos entre os quais uma nova lenda, igualmente ligada à rainha santa, que vinda de Azambuja para Santarém montada na sua mula avistou uma avezita a dirigir-se para um monte fronteiro e perguntou a um escudeiro que pássaro era aquele: é a águia, respondeu-lhe. Ao que ela sorrindo acrescentou: águia, daquele tamanho? era melhor chamar-lhe cartaxo… Marcelino conta que sempre ouviu aos antigos dizer que em tempos idos o Cartaxo se chamara “ Vale da Águia”…
O general Victoriano José César (1860 – 1939) que tinha tido a sua polémica nacional com o monumento à batalha de Ourique em Vila Chã num escrito editado postumamente afirma que o Cartaxo deve o seu nome a um primitivo acampamento romano instalado no sítio de Carta Chana e que os naturais da povoação se deveriam apelidar cartachanos e nunca cartaxeiros ou cartaxenses e que a grafia do nome se deveria fazer com CH na última sílaba e não com o X que era uma modernice. Esta polémica não teve grande eco e a lenda da rainha santa planou pelos tempos fora. Mas as palavras do general deveriam ter tido um suporte científico apoiado na arqueologia e não tiveram. Os achados arqueológicos recentes (2005) na Quinta da Aramenha talvez lhe tivessem dado alguma razão. Mas deixaram em aberto muitas pistas. Acampamentos romanos na região conhecem-se hoje Chões de Alpompé, século IV a.c. Vale Figueira/ Santarém já bem estudado. Carta Chana continua (ainda) por encontrar. Daí que parece pertinente saber, como um dia em ar de brincadeira perguntou Rosalina Melro, se foi o pássaro que deu nome à terra ou a terra que deu nome ao pássaro.
General Victoriano José César natural do Cartaxo oriundo de uma família humilde assentou praça como voluntário aos 18 anos na arma de Artilharia e chegou a general a 30 de Outubro de 1926. Lente da Escola de Guerra e presidente da Comissão de Estudos de História Militar, agraciado com várias condecorações, escreveu alguns livros.
Rogério Coito é historiador e escreve segundo a antiga ortografia, este texto foi publicado na Revista DADA nº59, edição impressa de dezembro de 2015