Expressões da Busca pelo Sagrado. A iniciativa da Unidade Pastoral das Paróquias do Concelho do Cartaxo nas Jornadas Europeias do Património

No passado dia 22 de Setembro, pelas 17h, a igreja paroquial do Cartaxo transformou-se num auditório para receber mais de uma centena de pessoas, interessadas em aprender mais sobre as expressões da busca pelo sagrado, no património do Concelho do Cartaxo.

Pedro Gaurim, historiador de arte

Bagos da Memória, por Pedro Gaurim

Desde o ano 2000 que Portugal promove as Jornadas Europeias do Património, uma iniciativa do Conselho da Europa e da União Europeia, que todos os anos lança um tema. “Redes Rotas e Conexões” foi o tema deste ano, sobre o qual deviam assentar os discursos das inúmeras e diversas iniciativas por essa Europa fora.

O Padre Miguel Ângelo Ferreira lançou-me o repto para participar, como à Dra. Ana Carina Azevedo e à Dra. Sofia Antunes, propondo-nos uma abordagem do espiritual no âmbito concelhio, transversal aos limites das freguesias e do tempo histórico, que se traduziu numa conferência coletiva que trouxe algumas novidades sob a forma de pequenas histórias.

A Dra. Ana carina Azevedo iniciou a conferência contando algumas lendas do concelho, relacionadas com os cultos pré-cristãos e que são análogos a outros locais do país e da Europa: a Lenda do Bicho Feio; a Lenda da Moira da Lapa; a Lenda da passagem da Sagrada Família por Pontével durante a Fuga para o Egipto e a origem da Capela de Nossa Senhora do Desterro, ou da mítica passagem de D. Afonso Henriques por Vale da Pinta. Mas também, hipóteses sob o designado Poço de São Bartolomeu se tratar na verdade de uma piscina para o banho santo das crianças, que acontece no dia de S. Bartolomeu noutros pontos da Europa.

A minha abordagem propôs, com base nas imagens de arte sacra das várias paróquias, sobre os oragos, a toponímia, os nomes das quintas, os registos de azulejos em casas particulares e a heráldica do concelho, a reflecção sobre rotas espirituais, nomeadamente a rota franciscana, a rota mariana, a rota da Paixão de Cristo, a rota ao culto de S. Sebastião, todos cultos com uma presença particularmente demarcada no concelho. Referiu-se a importância da presença das ordens franciscana, de Cristo, de Malta e das Comendadeiras de Santiago no Concelho, como verdadeiras redes de contactos no âmbito económico, social e artístico. Estabeleceram-se conexões à memória do bispo D. Ambrósio, que sagrou a Igreja do Cartaxo em 1529, ao pintor Luís Gonçalves de Sena, autor das telas da capela-mor, e à diáspora do património, com referência à diáspora do Património.

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A Dra. Sofia Antunes abordou a importância de conservar o património nas suas diversas manifestações, citando textos de alguns nomes de referência sobre o assunto procurando suscitar o interesse sobre esta matéria cuja importância ainda não é compreendida por muitos portugueses, mas cujo entendimento pode criar um verdadeiro fascínio pela matéria.

Como se tratando de um verdadeiro acto académico, no final da conferência houve uma forte participação de elementos da assistência que colocaram diversas questões ou contribuíram com conhecimento e ideias relacionadas com os temas expostos, destacando-se a ideia da possibilidade da criação de um núcleo de arte sacra, à semelhança do existente em Pontével.

Esta conferência foi abrilhantada com a tradição musical da Igreja católica, pelos Coro Infantil e Juvenil da Igreja do Cartaxo (CIJ) e o Coro Dominical da Igreja do Cartaxo, dirigidos pela Dra. Margarida Cruz. Na Primeira parte, a assistência presenciou um belo momento de Canto Gregoriano de Culto Mariano, com três músicas (1.Ave, Maria Stella, hino vésperas; 2. Ave Regina Caelorum, antífona mariana; 3. Regina Caeli, antífona mariana. Na segunda parte, ouviu-se três canções de música sacra contemporânea (1. Criastes-nos para Vós, Senhor – Padre António Cartageno; 2. Quem nos separará e 3. Pão da Vida Nova, ambos de Padre Marco Frisina).

Junto do arco da ousia da igreja, fez-se uma pequena mostra de obras de arte sacra provenientes de diversas paróquias do concelho, que estão habitualmente guardadas. Das coleções do Cartaxo, duas pequenas esculturas de São João Menino ou São Joãozinho, uma cruz com o símbolo da “Fraternidade Franciscana”, um crucifixo pintado com anatomia em perspectiva, ambos com grande possibilidade provenientes do desaparecido Convento do Espírito Santo. De Vale da Pinta, veio a escultura de S. Bartolomeu, e proveniente de Pontével, uma reprodução impressa, da pintura “Descanso da Sagrada Família na Fuga para o Egipto”, uma vez que o original está no Museu Diocesano de Santarém.

Aos poucos, o Concelho do Cartaxo tem vindo a identificar e a recuperar a sua memória histórica e cultural, que pelo interesse da população, funciona como um verdadeiro cimento na coesão das comunidades e no vínculo ao seu território, através do cultivo do conhecimento da herança histórica.


O autor escreve segundo a antiga ortografia

Isuvol
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