Por Sónia Parente
Por que é que as pessoas gostam tanto de falar dos outros?
É uma prática comum entre todos, falar dos outros, em conversa com amigos, conhecidos ou familiares. Alguns em maior grau, outros em menor. Alguns com maior tendência a depreciar e a julgar, outros com maior tendência a elogiar. No entanto, todos conhecemos pessoas que já sabemos que numa conversa o principal assunto irão ser os outros.
Do ponto de vista psicológico, falar muito dos outros é visto como uma forma inconsciente de evitar pensar e de falar de si mesmo. Quando nos centramos essencialmente nos outros – no que fazem, dizem…– temos tendência para não nos centrarmos em nós – no que fazemos, dizemos e sentimos… Denota uma baixa auto-estima e uma falta de relação consigo próprio. Frequentemente, quem muito fala dos outros é quem tem dificuldade em estar consigo próprio, em estar sozinho, e também de alguma forma essas pessoas sentem-se inferiores aos outros pois necessitam de, inconscientemente, verificar e a comparar-se com os outros, isto é, só se é bom considerando que ninguém é melhor.
Em acompanhamento psicológico é comum, as pessoas que têm essa tendência a centrar-se nos outros, desviarem constantemente os assuntos para os outros e não para si próprios. Por exemplo, quando contam uma situação que lhes aconteceu focam-se essencialmente no que o outro fez e disse, evitando assim uma reflexão sobre a sua própria atitude nessa situação. Ou a reflexão mais profunda é feita acerca dos outros envolvidos na situação e não no próprio. O papel do psicólogo é dirigir a conversa para uma reflexão acerca das suas próprias atitudes, o que não implica que seja negativo, muitas vezes é o contrário, pois existe uma maior compreensão e reflexão acerca de determinada situação.
Quando tal se torna num modo típico de funcionamento, as defesas psicológicas instalam-se como formas inconscientes de evitar um confronto consigo mesmo bem como de afirmação perante os outros. Torna-se um hábito e a vida dos outros é o seu indispensável assunto de vida.
Quanto mais nos sentimos bem connosco, menos teremos necessidade de falar dos outros. Quanto mais inseguros ou insatisfeitos nos sentimos, mais teremos essa tendência. Uma pessoa que gosta de si mesma e se respeita não tem essa necessidade.
Sónia Parente é psicóloga clínica